ALUNO:
JÚLIO CÉSAR DE LIMA NUNES TURMA: 3º MÉDIO C ESCOLA TOMÉ FRANCISCO -QUIXABA - PE
PROFESSORA:
ROSINEIDE ALVES DE ALMEIDA OLIVEIRA
Dois
estados, dois municípios e uma Lagoa seca
A água é um bem indispensável à vida que está extinguindo-se
do planeta Terra. Pesquisas e mais pesquisas sobre o assunto atestam que a
escassez do “ouro azul” no mundo não é apenas profecia, mas uma realidade que
já começamos a presenciar. Em Lagoa da Cruz, o lugar onde vivo, já constitui um
fato. Com cerca de 2000 habitantes, o distrito está localizado no sertão
pernambucano, ou, para ser mais preciso, “pernamparaibano”, pois parte do seu
minúsculo território encontra-se em terras do estado da Paraíba. Quixaba, PE e
Princesa Isabel, PB; dois municípios, um distrito: realidades diferentes.
Há
três anos não temos água nas torneiras, sendo a comunidade abastecida por
carros-pipa. Uma vez por mês, a prefeitura coloca em cada casa o equivalente a
1.000 litros de água; diariamente, quem precisar do precioso líquido deve pegar
em latas nas cisternas comunitárias. Consequência desta situação é também o
êxodo rural, dezenas de ônibus saem de nossa região, lotados de homens que deixam suas famílias em
busca de trabalho no Sul do país, pois a estiagem traz a falta de tudo por aqui.
Esta situação é desesperadora, embora a
comunidade ainda não tenha despertado
para o tamanho do problema. Como resolvê-lo? Quando teremos água para chamar de
“nossa”? Por que Lagoa da Cruz não é contemplada com os mesmos benefícios das
cidades-sede dos municípios aos quais pertence?
Deixe-me ser mais claro: enquanto não temos
água em Lagoa da Cruz, na cidade de Quixaba nunca faltou o líquido precioso,
pois dispõe de um manancial que dá conta de seus habitantes e recentemente foi
beneficiada pela Adutora do Pajeú, obra da transposição do Rio São Francisco, cujas
instalações encontram-se a menos de 20 km do lugar onde vivo. A cidade de Princesa
Isabel, nosso município por parte da Paraíba, embora esteja sem água no
momento, logo será também banhada pelas águas da adutora. Segundo dados da
Wikipédia, o projeto de transposição do rio São Francisco, quando concluído, beneficiará 12 milhões de pessoas e
112 municípios em todo o país. Porque uma população tão pequena como a de Lagoa
da Cruz não poderá entrar nesta estatística? Por que essa obra não pode
chegar até nós, já que também somos quixabenses e princesences?
Reconheço que alguns esforços do poder
público dos dois municípios já foram feitos para amenizar nossa situação, como
o atendimento com os carros-pipa, a construção de cisternas e a perfuração de
dois poços. Porém, estas ações, a meu ver, não solucionam o problema por dois
motivos: a vazão dos poços é insuficiente e as águas subterrâneas tem apresentado
muita salinidade; característica constante no semiárido nordestino, conforme
atestam pesquisas de várias universidades. São construídas cisternas, mas para
armazenar o quê, se dependem exclusivamente da água da chuva?
Em minha opinião, um distrito carente como o
meu, pertencendo a dois municípios deveria ser bem cuidado e nunca desamparado
pelo poder público. Falta alguém que olhe com os olhos da mudança para o meu
lugar, pois água de carro-pipa não é solução, é paliativo. Os mananciais das cidades
solidárias que estão fornecendo água para os carros-pipa não suportarão grandes
retiradas por muito tempo. Então, o que faremos?
Por isso defendo que a melhor solução para
nosso distrito seria o abastecimento de água pela Adutora do Pajeú, já que a
possibilidade de encher o nosso antigo açude está descartada porque a seca
continua cruel como sempre. Além disso, proprietários de terras vizinhas ao
manancial construíram açudes particulares nas suas vertentes (esta é outra
questão polêmica e prova do descuido com Lagoa da Cruz).
Tenho certeza de que se dependesse da vontade
do “Velho Chico”, nossa Lagoa não ficaria sem água, até porque o consumo da
população é pequeno. Acredito que o problema está mesmo é na falta de ações
humanas; afinal, em épocas passadas não havia o progresso e a infraestrutura
que existe hoje no Nordeste. Temos representantes do poder legislativo na
comunidade, mas estes não se pronunciam no caso e a população pouco cobra deles.
Permanecem inertes diante da situação.
Lagoa da Cruz, cujo nome originou-se de
lagoas cheias de água que cobriam suas terras antigamente, hoje é uma lagoa
seca. Gostaria de viver numa Lagoa com água, por isso acredito que precisamos
de uma grande mobilização da comunidade: igrejas, escolas, famílias, sociedade
civil e representantes políticos. Assim, o problema da água em Lagoa da Cruz
teria alguma chance de ser resolvido. Enquanto isto não acontece, ficaremos à
mercê do destino, orando na capela, fazendo procissão e promessas para São José
como nossos antepassados.